De uns anos pra cá, São Paulo virou uma cidade em que as pessoas andam fantasiadas pelas ruas, coisa que não existia. No caminho, centenas de foliões fantasiados pelas ruas da cidade. Como eu fui na correria, estava de chinelo de dedo, bermuda e camiseta regata branca. Eu era a única pessoa, no meio da multidão, não fantasiada.
Por Artur Tirone
Ontem fui jogar bola no Anhanguera logo cedo, às sete e meia da manhã. O combinado era eu jogar e sair rapidamente pra levar a Renata e a Teresa ao Bloco do Ó, que começaria às nove. Tomei um banho depois do jogo, passei em casa e fomos rumo à primeira incursão carnavalesca da minha filha, prestes a completar 9 meses. Chegamos lá às dez e já tinha um monte de gente. De uns anos pra cá, São Paulo virou uma cidade em que as pessoas andam fantasiadas pelas ruas, coisa que não existia. No caminho, centenas de foliões fantasiados pelas ruas da cidade. Como eu fui na correria, estava de chinelo de dedo, bermuda e camiseta regata branca. Eu era a única pessoa, no meio da multidão, não fantasiada. Qual não foi minha surpresa quando, logo de cara, uma “foliã” me perguntou se eu estava fantasiado de mim mesmo. Eu andava e as pessoas me mediam, não sei se por me considerarem um revolucionário ou por me acharem um carna-pária.
Um tempo depois, na fila da barraca de cerveja, um cara vestido de teletubbie veio me perguntar qual era o conceito da minha indumentária e qual era a mensagem que eu queria passar. Quando estava indo embora, tive a impressão de que todos me fitavam e de que andar não fantasiado nessa época virou coisa de gente esquisita.
Depois fui para o Bloco da Vovó na Barra Funda, eu que compus o samba do bloco este ano. Três amigos bebiam Campari e me receberam dizendo que estavam fantasiados de Favela. Aí eu caí de cabeça no Campari também.
À noite, pra ir da Barra Funda à Santa Cecília, onde moro, foi um sufoco. Ruas interditadas, blitz policial pra todos os lados. Imaginei-me numa fantasia de ninja e fiz caminhos do arco da velha, como um Garrincha driblei geral. Aí fui levar o Palhares pra passear. Só que eu não contava com o Santa Ceciliers, essa turma que na verdade anda fantasiada o ano inteiro. Já um tanto alterado pelo álcool, tomei uma atitude pra não ficar sendo o esquisito no meio dos hipsters da área: amarrei a coleira do cachorro no meu pescoço, e ele me levou pra passear. Palhares fez o maior sucesso com sua fantasia. Só faltou mesmo o poste mijar nele.
Imagem de destaque: detalhe do quadro “A luta entre o carnaval e a quaresma” (1559) de Pieter Bruegel