Sexta crônica: “Buteco é minha vida” (Aldir Blanc)

Do livro: “Direto do balcão”. Ed. Mórula, 2017.

O renomado Físico Paul Davies publicou um artigo no The Guardian (ta bom, eu li no Estadão), especulando sobre o fato de procurarmos vida em outros planetas quando  elaa, na verdade, pode estar bem aqui, entre nós, na Terra Azul de Gagarin. Empogado – tinha me reunido com meu mordomo e a condessa – caí na asneira de brandir o jornal no Bar da Dona Maria. Felizmente, o local estava quase vazio. Só meu afilhado Basile mamava a cerva, em sua tradicional caneca do Fla, refletindo sobre a segundona. Fiz Basile ler a argumentação do cientista de cabo a rabo e ainda forneci, estimulado pelo generoso limão da casa, explicações escabrosas a respeito de vírus, fechando a argumentações com sombrias previsões para o futuro, devido ao Katrina estar na casa astral do Bob Jefferson.

-Hiiiiiiuuuummmm….Oi, Blanc! Que hiiiuuuummm saudade!

Levantei-me comovido. Tratava-se de um amigo que não via desde os tempos do Externato São José, o Paivinha. Apesar do pequeno defeito na dicção, que vocês já notaram, Paivinha fazia sucesso entre as garotas por ter um olho preto e outro azul. Mesmo tomado pela emoção, um anfitrião de minha estirpe não esquece a imprescindível etiqueta:

– Basile, meu querido, deixa eu te apresentar…

Basile fuzilou os olhos na cara do cara e, com o artigo do Paul Davies em riste, gritou:

– Vade retro, ET filho da puta!

Outra de buteco. Recebi um i-meio, provavelmente de um biriteiro, assim: “Blanc, adorei sua matéria sobre”. Como a mensagem não terminou, talvez porque o missivista tenha caído, criei a terminologia i-meio para todos os bêbados que tentam mandar recados pela internet e desabam no meio do campo de batalha. Mas voltando à vaca fria: malandro, com a camisa do Vitória, entra completamente de porre no bar da Dona Maria, e faz um discurso de quase duas horas, recheado de palavrões e copos voadores; a galera embaixo das mesas, sobre o IPA – Índice de Preços no Atacado. Cita estatísticas, índices, o escambau, rasga um cartão de crédito, come o talão de cheque. Tudo culpa de quem? Do IPA – Índice de Preços no atacado. Acaba a peroração cuspindo grosso, joga a cadeira favorita do Moa no espelho e sai sem pagar a conta. Chocado, Tião, pergunta pro Fabinho:

– Quem é esse animal?

Da máquina registradora, com seu sorriso sutil, Dona Maria mata a charada:

– Só pode ser o atacado

Confira a leitura de Léo Pereira em nosso instagram (@zumbidodebamba)

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