Armagedom, de Lello Di Sarno

(Seção: Zumbidos / por Leandro Esteves)

10 anos ele apareceu cantando de cor os sambas do Peruche, da Nenê e do seu Zelão. Cavaquinho no peito, não havia como parar: horas do melhor samba paulistano. Gravou Cd de samba gaiato do buraco do metrô, zombando da elite paulistana, hipócrita, especialista em fingir que nada vê. Tocou com Toinho, ponte entre a geração Geraldo Filme e os mais novos. Foi parceiro do Rubi.


Um dia, perdeu o parceiro. Foi-se o mestre e a vida lhe doeu. De cambulhada, perdeu a paz, a saúde. Atravessou fronteira, ouviu o bandoneon, recriou a música de seus pais. Todo herói tem uma jornada. Obstáculos perigosos. Reconciliado, voltou melhor ainda.
Melancolia de Criolo, seu Armagedom, interpretado por Natália Nagê, tem drama e tragédia, num terreiro arrumado: violoncelo e violinos, voz de bossa nova, violão, bateria, agogô, trombone.


Lello não é mais uma promessa. Ultrapassou o samba crônica de seus oriundi Vanzolini e Rubinato, escreveu poema de Rampazzo esculpido e revolvido: solvente com querosene; dardos, dados, fardos.

Não tenho mais motivo para duvidar do futuro do samba.

ARMAGEDOM
(Lello Di Sarno)

Para aguentar as coisas
Doídas, doidas
Todas toadas
Seguir valente
Gente da nossa gente

Pra segurar o reggae
Engolir seco a gota d’água
Faca nos dentes
E baforar solventes

E antes do apito final
O samba há de nos redimir
E eu correndo pra ver
Meus dados, meus dardos, meus fardos
O querosene e o isqueiro na mão
Me disse um ancião:

No Morro Velho
Um violoncelo
Espera o armagedom

E disseram pra não se orgulhar da nossa quebrada, e disseram que futebol bom é o dos alemão, e disseram pra não usar boné de aba reta, e disseram que é crime soltar balão, e disseram que o menino Jesus tinha olhos azuis, e disseram que a nossa arte é artesanato, e disseram que o 31 de Março foi revolução, e mudaram Machado de Assis no retrato, e falaram mal de Zumbi
Isso não tem perdão

No Morro Velho
Um violoncelo
Espera o armagedom

Ficha técnica:

Alfredo Castro: cuíca
Allan Abbadia: trombone
Claudinho Santana: pandeiro
Cuca Ferreira: sax barítono
Doc: produção musical, baixo, violão, surdo, agogô, rebolo, shaker, prato, tamborim programação (strings), arranjo (cordas e metais) e mixagem
Emílio Martins: bateria
Fabrizio Di Sarno: masterização
Henrique Araújo: cavaquinho e bandolim
Lello Di Sarno: composição (letra, melodia e harmonia)
Maria Carolina Fernandes: rabeca
Natalia Nagê: voz
Thainá Borges: conga e clave

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